quinta-feira, 30 de julho de 2009

Toque

Sinto o efêmero gosto
Da liberdade
No toque dos teus lábios.
A alegria contida
Deságua em teus braços
E ali floresço
Com gratidão para
A paz da vida.

quarta-feira, 22 de julho de 2009


Delírio

Sinto sufocar os sentidos
E a necessidade de dizer algo
Apodera-se de mim,
De correr para alguém,
De relatar minhas decepções e certezas.
Ah!
Como eu gostaria de ter um dia harmonioso
E de perene sentido diante de mim.
As águas me embalam
Com cheiro e lição
De ser a mesma em diversas fases.
Eu queria estrelas
Na escuridão da noite
E o azul que abraça a imensidão
Do céu palco do meu sol.
Eu queria ser minha
E deixar de lado a posse.
Eu queria olhar mais uma vez o orvalho
E ter o deleite do caminho das flores.
Queria doar um sorriso,
Deixar minhas pétalas como lembrança.
Não dá, não é para ser
Escrever é minha convulsão de pensamento
A caneta rabisca minhas dores
E entre cores libera a minha alegria.
Ah! Como queria, sem remorsos ou fantasias.

Nossa Canção

No rádio toca a nossa música
E em meu corpo sinto teu calor.
Encontro tuas mãos perdidas
Entre as minhas,
No afago em meus cabelos.
A tua presença
Espirituosa
Ainda hoje como no passado
Traz a candura
Dos dias de paz.
A melodia transcorre,
Leva-me até o repouso dos teus braços,
Com tua voz abafada.
Embalada em nosso ritmo
Descortino meu universo
E te encontro.
Na tensão do desejo,
No incendiar da pele tocada
A luz na alma,
Era o instante feliz!
Capaz de evaporar-se no piscar de olhos,
E ainda assim eterno.
No carinho da escuta quebrado
Por palavras simples
A canção termina,
E volto a minha rotina distraída.




Prado

Retornei ao meu prado
Para sentir-me gente.
O frenesi da metrópole
Dá-me angústia,
O pôr do sol
E as fases da lua
São incompreensíveis
Sob seus holofotes.
Não há tempo!
Os homens-máquinas
Multiplicam-se entre tarefas infindáveis
E de diversas ordens.
Tudo parece pesado
Esgotado de possibilidades
Aos indivíduos programados.
Sempre semelhantes!
Colecionadores de títulos
Escravos sociais
Bravos atores
Lustram seu cinismo
Chamado cordialidade.
E com frustração, culpa e cansaço
Como último suspiro,
Entregam-se a bandeira de seu time
Dividem-se entre igrejas e sindicatos
Tornam-se devoradores de livros
Especialistas de coisa nenhuma,
E debatem-se com o vazio
Beiram o desespero,
Esquecem de olhar-se, respeitar-se
E permitir-se ser diferente.
Para colher as flores do próprio caminho

E sentir o grande astro voltando-se para si.

quinta-feira, 16 de julho de 2009


Sepultura

Não posso imaginar como seria,
Se tuas palavras fossem proferidas
A mim.
Se soubesse das minhas alegrias.
Se estivesse comigo a cada tristeza talhada.
Se tua mão me tocasse para sufocar o medo.
Como seria?
Será esse o meu ponto de interrogação?
Houve lágrimas que secaram
Em um coração estéril
Com o amor em broto,
E esforços contagiados pelo passado.
Agora olho a travessia,
Não consigo lembrar o teu rosto
Você se esvai, sem regresso.
A amargura torna rijo o mover-se.
Depois do sonho vão,
Vou construir um dia de cada vez
Apreendendo os sinais.
As amarras se rompem aqui.
Um convite sutil me leva ao retorno
Não solitária, em companhia de mim.
Deixar o amor florescer
Sepultando o que nunca será.

terça-feira, 14 de julho de 2009


Crepúsculo

O fim da tarde trazia os últimos raios
Calando as vozes do dia.
Absorvida pela beleza da cena
Não percebia o calor da hora
Afagar a pele.
Eu apenas existia!
O crepúsculo tornava brando
A inquietação.
O gosto de fel e o feitiço da imagem
Trouxeram-me a pergunta:
Por quê?
A minha alma convertia-se
Em várias mulheres habitando o corpo frágil.
Os ruídos urbanos eram imperceptíveis.
As tantas formas de mulher poderiam ser percebidas?
As cores do firmamento mudavam
Ofertando sensações longe do cotidiano.
As trevas do meu pensar resistiriam por quanto tempo?
O insondável permeava a transmutação do dia
Despedindo-se com um derradeiro vento.
Senti-me tocada.
O que mais poderia querer após os tormentos
Da labuta diária?
Os reflexos exterminavam a obscuridade
Lembrando o breve recomeçar.
E o que de tudo isso permaneceria?
Era o findar de uma bela tarde.

Cavaleiro Branco

Um vasto campo florido convida a sonhar
Reaviva quereres de um guerreiro branco
Cansado, desacreditado por si, faminto de vida,
Despido de honra.
As cores florais reluzem na armadura
Que oculta as cicatrizes de sua alma,
E guarda a leveza daquele ser.
O perfume exalado distancia as batalhas perdidas
Esconde a covardia nos gestos.
Naquela vastidão o cavaleiro branco repousa,
Sonha com possibilidades outras.
Seu castelo de fantasia dissipado
Pelos horrores da sobrevivência
Impôs a mágoa, seu algoz.
O cavaleiro branco açoita seu destino
Desejoso do efêmero prazer
Do instante indizível da plenitude de viver.
O cavaleiro branco esconde seu encanto
E não se deixa amar.
Mostra seu sarcasmo.
Incrédulo, assim o chamam!
Desorientado de angústia desbrava mundos.

sexta-feira, 10 de julho de 2009


As dores

As dores do mundo
Fizeram-me parar,
Faltava compreender
O que isso seria.
As dores do mundo
Seria o medo, a fome
A perda, A doença,
A insegurança,
O que chamam de sofrimento?
As dores do mundo
É uma invenção
Uma voz que manipula
Os ávidos por heróis
Os pobres necessitados
De segurança, De família,
De santos, doutrinas,
Políticas.
Causa desconfiança!
As dores do mundo
Podem ser chamadas
De mundo,
E seu constante movimento.
Assusta,
Pois não se curva
É livre.
As dores do mundo
No mundo de dores
Precisa que sejamos capazes
De querer
De produzir
De viver
Com o prazer
De ser quem somos.

Gotas

Senti algo escapar-me
Por entre os dedos.
A chuva era sem trégua,
Dia cinza!
Eu nada possuía.
Pasma,
Eu nada queria possuir.
A torrente arrastava
As folhas.
O som da água
Aquietava meu ser.
Esse algo não escapava
Eu o mandei embora.
Nada podia ser meu,
As gotas de chuva
Pediam atenção.
Eu não podia.
E a chuva agora fina
Parecia despedir-se
Deixando-me em abandono.
Escassas gotas
Escorriam
Em meu corpo
E eu
Não sabia mendigar
Por seu afeto.

sábado, 4 de julho de 2009


Cinzas

A minha sombra
Perambula a ermo.
Meu inverno se dissipa
Entre passos irrefletidos,
O horizonte em nada mudou.
Percebo com espanto,
A ordem dos acontecimentos
Estática.
A minha solidão é povoada
De fantasmas
De esperanças.
Respiro o ar leve
Estranhamente.
Sinto
As ondulações,
Nada está como antes.
Estou fora do tempo
Mas ele resiste em mim,
Imperfeita
Completa,
Nas cinzas
Ao vento.