Esta noite não sonhei, na verdade nem dormi. O silêncio persistente preso nas paredes gélidas Não é acolhedor. Os dias arrastam-se nutridos de tempestades interiores. Olhei o vazio, para que minha mente criasse imagens livres. Quiçá, abafar a saudade que arrebatou meu peito. Sua voz calara-se, Com as histórias da velha infância, com seus dissabores, Com suas piadas mal contadas. Poderia ser diferente? E como seria? Não adiantaria perguntar, A razão e as palavras nada valem quando nos entregamos Ou perdemos um grande amor. Quedei-me num canto onde me despi da farsa social, Com a ferida a latejar unindo-se a outras cicatrizes. Com pesar relembrei as últimas palavras: Um adeus recíproco. O adeus que selou a cumplicidade corpórea, que cessou a doação. Por quê? Por que tentamos conduzir o destino? Nem tudo foi dito, porém, de tudo ficou a certeza Que as tuas águas turvas me fez velejar por belos horizontes, E a tua inconstância alicerçou a minha serenidade. Essas águas apenas me deixam sentir Que és tu a fonte que em mim secou.
As estrelas já se despediam Dando lugar ao nascer do astro maior, Quando a mulher de pele vermelha Cansada da lida de suas relações Com os chamados semelhantes Andou na areia de frente ao mar. Concentrada nas controvérsias dos mundos individuais Caminhava distraída e atraída pela brisa. Inebriou-se ao som do mar, Exalando o seu cheiro natural. A mulher de pele vermelha trazia semelhanças Com as flores que se mostram. As causas externas perturbadoras de sua breve paz Ali se dissipavam. Ela sabia corporificar O elemento que a natureza lhe predestinou. Era mulher de pele vermelha, Ciente de seus limites Amante da liberdade Ser de múltiplos desejos. Trazia sentimentos fortificados No tempero dos sofrimentos. A malemolência no corpo exausto, a tornava parte do cenário. O toque suave dos raios aquecia sua pele, Fazendo-a oscilar entre a imagem selvagem de outrora E a delicadeza de quem tem nobreza de coração.
Parecia ser o último combate Quando cansada ela sentou-se a margem. Encantadora era a paisagem! Ali aquietou o corpo e também o coração. Há tempos se entregou as suas batalhas. Na verdade, eram seus ideais. Sim, ela os tinha! (Como era possível ainda ter ideais? Não sei.) Embora em seu íntimo a sua crença em dias de sossego Tenha sucumbido numa antiga trincheira. Em cada dia significava a si Porque queria perpetuar a vida, Além dos sonhos, Mais até que a longevidade corporal. No último combate, ela sabia que não venceria Mas, experimentá-lo seria uma grande lição. Guardar-se em nada acrescenta, E ela construia a própria vida.
Toda verdade é meia verdade
Pois a mudança é perene
O que parece destaque agora
Entrega-se ao esquecimento depois.
O que significa a sensação de ordem?
Organizo o meu mundo
Ou sou deslocada por ele?
Sentir a pureza do ato na experiência
Acumula sabedoria.
A delicadeza do ar desse bosque
Leva para longe um pouco de mim
Sem certezas para o retorno,
Nesse giro nada será como antes.
Não paro, a incerteza me atrai,
Quero um novo porto
Que me conte novas histórias.
Um coração aberto pode ir adiante,
A vibração da vida o guiará.
Sem elos permite que tudo seja
Como deve ser - Imprevisível!