quinta-feira, 13 de novembro de 2008


Uma lenda

Procuro há tempo o amor
Desconheço o seu físico
Não sei qual a sua língua
Ou mesmo a sua região de origem.
Colho depoimentos sobre o tal,
Devaneios soltos.
Carências adubadas na religião,
Na extravagância material,
No culto aos livros,
Na adoração a natureza,
E uma certeza curiosa em um Deus!
Procuro há tempo o amor
Exausta aqui estou.
Pistas furtivas me levam.
Descanso olhando ao redor,
Cansada sonho.
Procuro há tempo o amor
Quase desistindo ouvi:
Mulher - o amor não é palpável!
E pode se acomodar em todos os lugares
O ser amoroso é a sua forma.
Procuro há tempo o amor
A lenda urbana
Recontada em cada povo.
Procuro há tempo o amor
Procuro o inexistente
Destruindo o ideal,
Formulando uma mulher com cacos
Resistente a tempestades
De desafetos
Procuro há tempo o amor.

sábado, 1 de novembro de 2008


Beijo

Mãos ásperas lapidadas pelo trabalho
Percorrem os seus contornos,
Ela se entrega ao brilho do olhar sedento
Incrédula da paixão,
Sua pele morena
Transpira o calor da fusão de vidas,
Entre arrepios e palavras soltas
A saudade se vai,
As bocas molhadas
Mãos encontradas
Ditam o ritmo,
O rochedo de pudor é transposto
Na ciranda de desejo vibrante.
Um sonho um amante
Da cativa sem paz
O que pode o beijo quando os corpos se atraem?

terça-feira, 14 de outubro de 2008


Pedra

Concentrada diante do rio
Carrego pedras contra a correnteza
Sam saber até quando,
Com olhos marcados pelo tempo
Assustada com a folha varrida pelo vento
Deixo ecoar no silêncio o meu grito mudo
Invocando o que houve de bom.
Sigo solitária,
Sem o toque cego da insanidade alheia
Na desordem dos dias.
Trago a esperança reprimida
Nas vibrações da alma.
Oscilando entre as horas,
Na jornada infinita
Do apodrecer e do florescer
Do passado e do futuro.

sábado, 11 de outubro de 2008


Uma vez

Passos mudos seguem
Sob olhar ansioso
Contendo a lágrima,
Ela é incapaz de mudar
O fatídico curso.
Os lábios
Escondem o sorriso,
E profere as lanças revestidas
De palavras,
Um tremor gélido
Percorre o corpo
Enquanto um
Breve retorno aquece
As lembranças.
É você mais uma vez
Talvez pela última...
A escuridão diz que um dia foi luz
A mente se inquieta
Inconsciente de si.
E algo deve ser dito!
A perfeição é limitada
A liberdade não é livre
A vida não nos pertence
Sabemos o que fazer,
Tu te calas
E me deixa ir.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008


Luta

Cansados
Diante da extravagância
Do combate
Devorados pelo desânimo
Da batalha constante
Tragados pelo medo
Do amanhã
A centelha otimista surge
E logo se esvai
Encontros fortuitos com a felicidade
São insuficientes
Para quem conheceu territórios minados
Famintos pela vida
A espada se ergue
Sobreviventes, até quando?
Sedentos por trégua
Por avistar o campo verde
A desconfiança fiel escudeira
É uma bússola eficaz
Os dias não se alternam
Aqui é a eternidade
Longe dela há um jardim
Um abrigo
Lá é o retorno.

terça-feira, 30 de setembro de 2008


Tarde

A fluência vital diante do mar
Revigora o silêncio
Pegadas moldadas
Em pequenos grãos de areia
Evidencia o caminhar
Tribulações dissipadas pela maresia
Renunciam a concretude
A tensão se desfaz no intervalo das ondas
Aqui embaixo há estrelas
As águas são vivas
Os sonhos pulsam no azul do céu
Borbulham no mar azul
O astro rei gentilmente anuncia o entardecer.

sábado, 27 de setembro de 2008


Chuva

Cai a fina chuva
Molhando o meu corpo
Sinto a leveza da liberdade
Expurgo sem definições
Escuto minha alma
Embevecida do que sou
A fina chuva rega
O ser desnudo de culpas
Germina emoções
Semeia vontades
Suas gotas deslizam
Trilhando o feminino
Que apenas é
A fina chuva faz florescer
Sob seu toque onde quer que vá
A vastidão lhe pertence.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008


Roda

A grande roda não pára
O dia nasce depois se recolhe
O breu da noite ocupa o seu lugar
A renovação não é percebida
Os passos são apressados
Morrer ou viver é o lema
Do corpo cansado
Da mente fixada no próximo ato
O humano violenta os sentimentos
Sufoca os desejos
Sugado pelo desconhecido
A máquina sobrevive
Cega
Muda
Impotente
O mundo que o contém não é percebido
Após cada volta a roda gira mais lenta
Perde o impulso
E se a roda parar?
Não sabemos o que a faz girar.

terça-feira, 23 de setembro de 2008


Memórias

Lembro do zelo
Do colo
Oásis do mundo para mim
Das mãos lutadoras
Afagando-me
Anjo meu
Por onde andas?
Meus ouvidos estão necessitados
Das palavras dos conselhos
Da ternura disposta
Quando o fardo me sufoca
Transporto-me ao teu olhar
O horizonte infindável me abraça
O meu pensamento busca você
A paz inunda o que restou de mim
Um consolo simples
Para o mais humano de mim.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008


Primavera

A primavera chega
Fica para trás o rastro cinza
Convertido no colorido dos dias luminosos
O nascer caminha para o morrer
Despercebido
É grande o burburinho das gentes
Nas cidades aquecidas pelo trabalho árduo
Coroado com o lindo final de tarde
A esperança sopra
Alivia as dores
As manhãs são belas
O desemprego as favelas a fome
Têm cores até o fim da estação.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008


Deserto

A nossa distância é traída
A união acontece em um desejo
Cego faminto de vida
As tragédias ou os clamores
Não chegam até nós
Estamos fadigados de tudo
Cada suspiro
Representa uma vitória
Comer beber decidir
Não é um ato vão
Viemos de tão longe
Do lugar onde o passado não se deixa recordar
Daqui o futuro não se deixa desvendar
Penso, se tu estás comigo
Ou se deliro acordada
Naquela calmaria mortificante em que me encontrastes
Havia desistido até de mim
E podia ver o mundo congelado
O frio percorre o meu corpo
Então sei que sonho no repouso finito
E a imagem que a mim se apresenta
É alucinação refletida no meu deserto
Calo te vendo sem conseguir senti-lo.

Defeitos

Paira sobre ela uma sombra
Sem misericórdia,
Ela conhece seus defeitos.
Atordoada com a luz ofuscante
Sente a pele queimar de pé
Diante do seu algoz.
Ela conhece os seus defeitos
Não se entrega,
Resta-lhe um pouco de fé,
Fé nas suas idéias.
Um labirinto longo
Tenta tirar suas forças.
Ela conhece os seus defeitos
Nas noites dos seus dias,
Os dias mais breves
Secos sem cores.
Ela conhece os seus defeitos
Cambaleia,
Segue em frente.
Até descobrir-se da sombra
De frente pra ela cresce
Ela conhece os seus defeitos
E resiste.

Coisa

Arranha - céus
Música estridente
Energia vital espalhada
Por todos os lados
E alguma coisa corrói
Sem pesar
Com intuito devastador.
O que é isso?
Sinto-o tão próximo
Mesmo com um fio de força
Estremeço
Ao contemplar os seus olhos
Não permitindo o fim.

sábado, 22 de março de 2008

Flores

Há flores por onde quer
Que eu passe.
Delicadas
Submissas
Misteriosas
Como o gênero feminino?
Não, não há conflito
São apenas flores.
O sol o rio
As folhas secas
Despertam o devaneio
Convidando a entrega
Explodo em estilhaços coloridos
Retorno ao pó
Danço
Com a leve cadência do vento
Embalada
As ruas são trilhas
As luzes guias
As pessoas
Parte da máquina da natureza.
Brota o sorriso tímido
Firme na descoberta
Deleitoso em ser....

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Luz

Paira sobre as águas um encanto
Transmutado em cada pôr do sol
Cheio de candura
Unido ao embalo das ondas
Reluzindo os vestígios de paz
Traduzindo o peso da jornada
Mantendo o sorriso
Através do desabrochar as flores

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Paixão

A paixão que aquece o peito
Comunga o misto
De amargura e alegria.
Pareço rendida?
Mas relutar traz angústia,
O curso da vida é breve
Quando visto com brandura.
Escravidão?
Apenas a entrega à emoção
Que purifica o trabalho árduo.
Sem norte,
Dar sentido ao que parece impossível.
Romântica?
Mas também carnal
Devasta crenças.
Insana?
Vive o que quer.
Felicidade?
Há de ser experimentada.
Paixão que exalta e exulta
Desconhece a rotina
Sendo sempre menina.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Descoberta

Hoje me encontrei
Morena
Linda
Pequena
Serena
Com o olhar doce
De quem se deleita com o próprio ato
De viver
Liberta apenas indo em frente
Cheia de paz como nunca acreditei
Ciente do que me envolve
Entregue aos desejos
Sendo mulher
Bendizendo o passado sem projetar o futuro
Sentido o frescor da vida
Beijar-me a face
Embalar-me sem direção
Passo a passo.