terça-feira, 30 de setembro de 2008


Tarde

A fluência vital diante do mar
Revigora o silêncio
Pegadas moldadas
Em pequenos grãos de areia
Evidencia o caminhar
Tribulações dissipadas pela maresia
Renunciam a concretude
A tensão se desfaz no intervalo das ondas
Aqui embaixo há estrelas
As águas são vivas
Os sonhos pulsam no azul do céu
Borbulham no mar azul
O astro rei gentilmente anuncia o entardecer.

sábado, 27 de setembro de 2008


Chuva

Cai a fina chuva
Molhando o meu corpo
Sinto a leveza da liberdade
Expurgo sem definições
Escuto minha alma
Embevecida do que sou
A fina chuva rega
O ser desnudo de culpas
Germina emoções
Semeia vontades
Suas gotas deslizam
Trilhando o feminino
Que apenas é
A fina chuva faz florescer
Sob seu toque onde quer que vá
A vastidão lhe pertence.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008


Roda

A grande roda não pára
O dia nasce depois se recolhe
O breu da noite ocupa o seu lugar
A renovação não é percebida
Os passos são apressados
Morrer ou viver é o lema
Do corpo cansado
Da mente fixada no próximo ato
O humano violenta os sentimentos
Sufoca os desejos
Sugado pelo desconhecido
A máquina sobrevive
Cega
Muda
Impotente
O mundo que o contém não é percebido
Após cada volta a roda gira mais lenta
Perde o impulso
E se a roda parar?
Não sabemos o que a faz girar.

terça-feira, 23 de setembro de 2008


Memórias

Lembro do zelo
Do colo
Oásis do mundo para mim
Das mãos lutadoras
Afagando-me
Anjo meu
Por onde andas?
Meus ouvidos estão necessitados
Das palavras dos conselhos
Da ternura disposta
Quando o fardo me sufoca
Transporto-me ao teu olhar
O horizonte infindável me abraça
O meu pensamento busca você
A paz inunda o que restou de mim
Um consolo simples
Para o mais humano de mim.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008


Primavera

A primavera chega
Fica para trás o rastro cinza
Convertido no colorido dos dias luminosos
O nascer caminha para o morrer
Despercebido
É grande o burburinho das gentes
Nas cidades aquecidas pelo trabalho árduo
Coroado com o lindo final de tarde
A esperança sopra
Alivia as dores
As manhãs são belas
O desemprego as favelas a fome
Têm cores até o fim da estação.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008


Deserto

A nossa distância é traída
A união acontece em um desejo
Cego faminto de vida
As tragédias ou os clamores
Não chegam até nós
Estamos fadigados de tudo
Cada suspiro
Representa uma vitória
Comer beber decidir
Não é um ato vão
Viemos de tão longe
Do lugar onde o passado não se deixa recordar
Daqui o futuro não se deixa desvendar
Penso, se tu estás comigo
Ou se deliro acordada
Naquela calmaria mortificante em que me encontrastes
Havia desistido até de mim
E podia ver o mundo congelado
O frio percorre o meu corpo
Então sei que sonho no repouso finito
E a imagem que a mim se apresenta
É alucinação refletida no meu deserto
Calo te vendo sem conseguir senti-lo.

Defeitos

Paira sobre ela uma sombra
Sem misericórdia,
Ela conhece seus defeitos.
Atordoada com a luz ofuscante
Sente a pele queimar de pé
Diante do seu algoz.
Ela conhece os seus defeitos
Não se entrega,
Resta-lhe um pouco de fé,
Fé nas suas idéias.
Um labirinto longo
Tenta tirar suas forças.
Ela conhece os seus defeitos
Nas noites dos seus dias,
Os dias mais breves
Secos sem cores.
Ela conhece os seus defeitos
Cambaleia,
Segue em frente.
Até descobrir-se da sombra
De frente pra ela cresce
Ela conhece os seus defeitos
E resiste.

Coisa

Arranha - céus
Música estridente
Energia vital espalhada
Por todos os lados
E alguma coisa corrói
Sem pesar
Com intuito devastador.
O que é isso?
Sinto-o tão próximo
Mesmo com um fio de força
Estremeço
Ao contemplar os seus olhos
Não permitindo o fim.