sexta-feira, 9 de março de 2012

Vícios de Mulher


Foi por acaso que abri aquele livro de contos. Sempre gostei de ler, ainda mais quando uma mulher se dispunha a escrever. Sim, ainda carrego algo do feminismo comigo, mas isso não vem ao caso, quase todo mundo fere o politicamente correto.
A escritora parecia ser uma mulher madura bonita e inteligente, esse último adjetivo é redundante porque seus livros eram ótimos. Aquele exemplar pesando sobre minhas mãos abriu na página de um conto moderno. Era o relato da separação de um casal, intitulado Cupido, que como tantos outros faliu. Esse especificamente antes de estabelecer-se como um romance. Suponho ter sido um breve flerte. O curso do rio é oposto entre os sexos, é curioso como mulheres namoram e homens divertem-se. Ela relatava a qualidade do homem em questão, seu Romeu e em paralelo exaltava suas qualidades. Uma mulher ferida suscita o que há de mais selvagem em si, sei que muitos irão dizer que estou sendo radical, pois a nossa cultura protege e relativiza os atos masculinos. Mas, o caso é a permissividade. Mulheres doam-se, esperam e perdoam, estatisticamente, muito mais que os homens, contudo cobram caro depois. Cobram atenção, palavras, gestos e declarações de amor.
A autora detinha atributos que supostamente a separavam deste grupo de mulheres cobradoras. Todavia, ela cobrava de um modo singular em seu conto este que mencionava sua tribo literária, ou seja, todos do seu convívio participavam do seu desdém pelo homem em questão. Apesar de todo seu esforço para a liberdade feminina, era cínica e desejava fazê-lo de objeto de modo semelhante ao trato masculino com o sexo oposto da época.  Ela citava o péssimo desempenho sexual, a falta de viço para vida, a tristeza personificada naquele exemplar curioso da espécie, ainda que fosse um intelectual.
Sempre gostei de homens sensíveis. Há algo perturbador na cena em que o homem sentado num banco ler calmamente com ar despreocupado. Exercem um fascínio sobre minha libido as palavras exatas dentro de qualquer período e conexões de pensamentos do homem intelectual. Os nomes dos autores são doces e atraentes aos meus ouvidos.
Perdoem-me o devaneio. Voltemos a nossa autora, também militante da causa feminista ainda que bem distante do modo polido de Jane Austin. Essa brilhante mente que mesmo não saindo de sua pequena e pacata cidade abarcou o sentimento contido na mulher desbravadora da cultura.
Ela, a autora, usou de suas letras para enxovalhar a recusa do homem em lhe pertencer. Atribuiu a sua jornada sagrada o adestramento do outro. Talvez o aprendizado consista em saber passar pelas experiências apenas passando como Krishnamurti sugeriu um dia, sem condenações ou acúmulo de culpa.
Pergunto-me o que a autora pretendia mostrar e para quem quando resolveu tratar pejorativamente esse recorte de sua estória. Mágoa, frieza, medo? Qual a sua real motivação?
A tarde caía, a biblioteca escura expulsava seus visitantes. Guardei o livro junto com questionamentos. Fui à cafeteria da esquina e enquanto aguardava meu pedido contemplei a rotina dos passantes. A xícara floral continha o líquido negro enigmático. Os desenhos formados no café quente disseram muito mais sobre tudo isso.

Um comentário:

Carol Araujo disse...

Afinal nem todas "comédias" românticas são estilo americanas. Elas continuam depois dos primeiros meses de convivência.