quarta-feira, 21 de março de 2012

Fio Solto


A displicência de um movimento puxou o fio do véu de maia. Permitiu assim que ficassem amostra alguns mistérios da vida.

Ainda assustado o sonho tagarelava com a consciência. Ela lhe dizia sobre a simplicidade da vida, do labor necessário para comer, vestir, amar; falava das lágrimas de alegria e de sofrimento, do nascer e do morrer.

E o sonho apenas a escutava, sentindo as cores de suas cenas diluírem-se nas palavras grafadas em cada fala da consciência.

Ele era doce e assim julgava tudo ao seu redor. Seu brilho nascia da inocência. Sua ignorância era o seu maior tesouro.

Após um longo silêncio disse ele: - De que vale a procura insana? -Por que nos fazem acreditar que tudo está distante, quer dizer, além. Além da vida, além do horizonte, além do proferido, do visto, do esperado? Sou eu a essência de Morfeu. Resignifico o arco-íris no céu sob o olhar descuidado dos sobreviventes. Sou eu que alimento a esperança nos corações.

A consciência respondeu compassiva:
- Sim, doce amigo é por isso mesmo que você não sabe, por estar sempre distante em seu próprio mundo. A sua credulidade inibe... Quase choca a realidade. Você leva a tranquilidade a bater na porta do coração desanimado. Esse alento revigora até os destroçados. Como viveriam os mortais sem ti?

Um dia na transição dos segundos acontece um torpor. Sem esperar num ato do cotidiano as coisas mostram-se como são. A reflexão te abraça forçando o olhar sobre você mesmo. O sagrado vira profano e então você duvida e lamenta. Amores são finitos, amigos se perdem na estrada, as boas ações esperam retribuição, nem tudo tem um propósito e o acaso existe. A praticidade das escolhas faz parte da lógica da vida, seu instinto te guia até a padaria da esquina, és um animal perdido que perambula pela vida como tantos outros. E você sonho existe para fazê-los crer que cada dia vale a pena paga, que o esforço não é em vão. Por isso você foi nomeado guia dentro da escuridão porque ninguém sabe o que há depois. E quiçá seja essa a fórmula deste jogo, o desconhecimento após cada ato. Não, não lastime nobre amigo. Ninguém te prometeu nada, nem disseram ser fácil seguir em frente. O acordado foi que mantivesse o ânimo independente dos reveses.

O sonho cansado já nem escutava a consciência. Rabiscava nuvens enchendo de luz as almas cansadas com um antídoto de fórmula boba retirado do seu jardim. O sonho gostava de cores, flores, do ar fresco, de tempo. Em seu laboratório manipulava sob sigilo a fórmula do que impulsionava e alimentava a semente da vida, o sonho criou o amor. Portanto, jamais poderia entender a consciência, pois a sua realidade era outra. 

Um comentário:

Safe Pest Control disse...

Hey, that’s a clever way of thinking about it.

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