sábado, 28 de maio de 2011

Amor à moda antiga

A noite estrelada trazia ventos revigorantes. Ele fez uma declaração de amor ao modo dos românticos. Os românticos são adeptos do amor idealizado, com pitadas de sofrimento na espera para o tão sonhado enlace com aquele que o completará, sim a ele, metade de alguma coisa que permanece inacabada. Ao ouvi-lo encheu-se de ternura, beijou-o acomodando-se em seu leito, encerrando no peito a posse dessa criatura doadora de paz.



Adormeceu, ou melhor, fingiu dormir ao vê-lo preparar-se para sair do quarto, cenário do amor eterno até então. O amante devoto saiu para uma caminhada noturna, sem saber que era observado. Encontrou-se com uma dona nativa do vilarejo, trocou algumas palavras inaudíveis à distância que Janaína se encontrava, contudo, ela podia perceber a delicadeza do toque do seu terno amante acariciando a dona, beijando-a com animalidade. Foi difícil ver a tal cena, mas manteve-se firme. E após a troca de carícias o moço romântico seguiu em sua caminhada.


Desolada pensou: faz parte do instinto dele, certamente foi ela, a vadia, que o deixou sem opção. Prosseguiu assim, seguindo seu romântico par que naquela altura sussurrava ao telefone com uma mulher, sim ela sabia ter outra fêmea do outro lado da linha, já que o ouviu repetir as mesmas palavras ditas ao seu ouvido numa declaração eterna para adormecer, sentindo-se uma deusa entre as mulheres. Naquele momento a ingênua Janaína já sabia o que fazer por conhecer bem o sentimento que a possuía ali, sendo testemunha dos diversos “amores” do seu par romântico.


Janaína descobriu-se vulnerável ao sentir-se mais uma na multidão, seu altar era compartilhado. Fora educada para ser mãe, esposa dedicada ao seu homem, esse ser controverso que a acompanharia pelo resto de seus dias. Desconhecia outro significado de ser mulher, mas jurou para si não perder a sua presa, sua redenção, seu troféu para a sociedade. Afinal, as mulheres de sua família sempre se casavam, e constituíam sua própria família. Tomou sua decisão ali enquanto o ouvia declarar-se carinhosamente para a sua rival.


Vendo o moço dirigir-se ao alojamento do seu quarto, onde a havia deixado dormindo como a mulher mais amada do mundo, adiantou-se num atalho e com habilidade própria do feminino deitou-se. Pouco depois, o amante adentra ao quarto, se aproxima de Janaína começando um breve jogo do amor da carne. Ela se entrega, enquanto pensa ter que prendê-lo junto a si. Algo a corrói além do toque, em seu âmago algo a separa daquele tão amado homem. O ciúme não declarado, a sufoca para os dias vindouros. Ela se entrega, ama com paixão deixando-o ébrio. Sobre os lençóis ele lhe pertencia, um misto do corpo e um modo de ser alma. O sono foi profundo.


À luz do novo dia ele deparou-se com o fardo de sua jornada, e a mulher mau amada, vítima de si lhe cobraria dia a dia sua felicidade. Após aquela noite o amor cedeu ao mal humor mantendo-se frio todas as noites.

20/07/2010

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